Autor: Welington Barros

  • UNEGRO apresenta projeto “Das Quebradas Pocando pro Mundo” na Casa de Semiliberdade do IASES na Serra

    UNEGRO apresenta projeto “Das Quebradas Pocando pro Mundo” na Casa de Semiliberdade do IASES na Serra

    Na tarde do último 23/09 a coordenadora do projeto Júlia Batista e a presidenta estadual da UNEGRO Capixaba Adriana da Silva estiveram na Casa de Semiliberdade na Serra para fazerem uma apresentação do projeto “Das Quebradas Pocando pro Mundo” para a equipe técnica da casa. Das Quebradas Pocando pro Mundo é um projeto da UNEGRO voltado para a formação cidadã, profissional e cultural da juventude das periferias.

    A pauta da agenda foi a proposição de um Termo de Parceria entre a UNEGRO e o IASES, objetivando que o instituto possa indicar adolescentes e jovens em regime de semiliberdade para a participação em cursos presenciais ofertados pelo projeto. No intuito de oferecer novas oportunidades educacionais e profissionais para jovens.

    Em apresentação, Júlia destacou a importância do papel do IASES na reinserção social de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. Acredita que a participação dos jovens no projeto contribuirá para o fortalecimento de vínculos sociais positivos, desenvolvimento de novas perspectivas de vida, contribuindo o mesmo para a construção de trajetórias pessoais e profissionais menos marcadas pela vulnerabilidade social. A promoção de valores de cidadania, cultura de paz e respeito à diversidade.

    No Termo de Parceria estarão estabelecidos a definição conjunta de critérios de seleção e acompanhamento dos jovens, canal de diálogo permanente entre as equipes técnicas. A cooperação busca garantir a inclusão dos jovens indicados pelo IASES nos cursos de Elaboração de Projetos, Capoeira, Formação e Preparação para o ENEM, além de outras formações previstas no projeto.

    “Das Quebradas Pocando pro Mundo” demonstra o compromisso histórico da UNEGRO com a transformação social e com a criação de caminhos de futuro para a juventude negra e periférica do Espírito Santo. E esta parceria com o IASES certamente fortalece as políticas socioeducativas, amplia horizontes e abrirá novas possibilidades de vida para os jovens atendidos pelo instituto.

  • Fundação Palmares completa 37 anos: vicissitudes na trajetória de vida de uma instituição que é uma conquista do movimento negro brasileiro.

    Fundação Palmares completa 37 anos: vicissitudes na trajetória de vida de uma instituição que é uma conquista do movimento negro brasileiro.

    Criada em 1988, seu nome homenageia o Quilombo de Palmares, símbolo de resistência contra a escravidão, marco da luta pela liberdade e afirmação da identidade negra no Brasil. Têm importância histórica e social, por ter como objetivo valorizar e preservar a cultura afro-brasileira, proteger e certificar as comunidades quilombolas, tendo como norte promover políticas públicas de equidade racial.

    Sua criação da foi uma reivindicação do movimento negro ao governo brasileiro. Surge num momento histórico em que ares de democracia começavam a sobrar em nosso país, depois de 20 anos de ditadura militar que calou muitas vozes que se opuseram ao regime autoritário.

    Talvez, seja pelo que ela representa, tenha sido tão atacada durante o governo Bolsonaro. Na gestão do então presidente Sérgio Camargo, um legítimo “capitão do mato”, a biblioteca foi sucateada, o Machado de Xangô orixá da justiça no Candomblé que simboliza resistência e herança africana deixou de ser o símbolo da fundação, anulação de 27 nomes da lista de Personalidades Negras Notáveis, foram tempos difíceis.

    Um dos grandes desafios da Fundação Palmares é a Titulação dos quilombos, não se faz justiça social sem que se mexa em privilégios, o acesso à terra foi negado ao povo negro, em 1850 uma lei federal proibia a aquisição de terras por pessoas negras.
    O acesso à terra garante dignidade, autonomia, e soberania alimentar. Por isso, as elites nacionais atuam fortemente no Congresso Nacional contra as políticas de Ações Afirmativas. Aqui no Espírito Santo tem 46 comunidades quilombolas certificadas, mas apenas uma titulada. Titulação é a posse definitiva regularização fundiária do território quilombola.
    Esse número representa o quanto tem sido difícil avançar nesta agenda.

    Na solenidade de comemoração em Brasília na última segunda-feira (25), foi assinado pelo presidente da fundação João Jorge Rodrigues o Ato Institucional devolvendo os 27 nomes a lista das Personalidades Negras Notáveis, novos nomes foram incorporados chegando ao número de 330, número que faz referência aos 330 anos do martírio de Zumbi dos Palmares, símbolo maior da luta pela liberdade povo negro em nosso país.

    Ângela Davis, Antonieta de Barros, Arthur Bispo do Rosário, Cartola, entre outos, fazem parte desta lista de Notáveis.
    Entre os capixabas constam os nomes de Albuino Azevedo, Chico Prego, Dona Astrogilda, Edson Papo Furado, Eliza Lucinda, Gustavo Forde, Maria Laurinda Adão, e Zacimba Gaba. A lista é um acervo vivo, novos nomes serão incorporados no futuro.

    Durante seu pronunciamento o presidente da Fundação Palmares destacou o momento de reconstrução institucional e político da entidade, afirmou que
    “os 37 anos marcam uma nova fase, mais vigorosa e conectada ao futuro, dedicada a quilombolas, povos de terreiro, e as expressões Negras que moldam o Brasil”.

    Vida longa a Fundação Cultural Palmares!
    Salve Zumbi, salve Palmares!

    Por Welington Barros

  • Presidenta da UNEGRO Capixaba participa de seminário sobre direitos humanos no IFES em Vitória

    Presidenta da UNEGRO Capixaba participa de seminário sobre direitos humanos no IFES em Vitória

    Na noite de ontem segunda-feira (25) foi realizado no IFES o seminário: Educação, Direitos Humanos, História e Memória, para alunos do Instituto Federal. O foco da palestra da presidenta da UNEGRO Capixaba foi a violência contra as mulheres, em especial as mulheres negras.

    Segundo Adriana a mestiçagem é uma marca de nossa identidade nacional, forjada na violência contra as mulheres negras e indígenas estrupadas pelo colonizador.

    É certo que essa violência fruto de uma sociedade construída pelo patriarcado atinge todas as mulheres. Mas é preciso fazer o recorte de raça e classe, pois o racismo estrutural destinou as mulheres negras o lugar de vulnerabilidade social e econômica.

    Numa sociedade racista e machista as mulheres negras são invisíveis, isso faz com que tenham mais dificuldades de acessar as políticas públicas.

    Para Adriana as mulheres negras buscam o bem-viver, nesse sentido está em curso a construção da II Marcha Nacional das Mulheres Negras que irá ser realizada em Brasília no dia 25 de novembro deste ano. “Ninguém solta a mão de ninguém” disparou Adriana.

    O seminário teve também como palestrante Gilmar Ferreira militante histórico pelos direitos humanos, Toninho Lopes ativista LGBTQIA+, e o professor Douglas Ferrari que abordou a importância da luta anticapacitista e a inclusão das pessoas com deficiência.

    Ao final Adriana afirmou que a educação salva vidas, por isso a importância das políticas de Ações Afirmativas como as cotas nas universidades públicas e no institutos federais.

    “Podrán morir las personas, pero jamás sus ideas” como afirmou Che Guevara, daí a importância do conhecimento na vida das pessoas.

    Por Welington Barros

  • Comitê de Cultura do ES promove noite de celebração à cultura popular em Vila Velha

    Comitê de Cultura do ES promove noite de celebração à cultura popular em Vila Velha

    Uma tarde/noite de celebração da cultura popular em Vila Velha, na Casa Cultural 155, no último domingo (29). Foi uma ação de mobilização, formação e intervenção cultural do Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC), programa instituído pelo Ministério da Cultura (MinC), que no Espírito Santo é realizado pelo Instituto Políticas e Ações Comunitárias (IPAC) e pela União de Negras e Negros pela Igualdade ES (UNEGRO-ES).

    A programação iniciou às 17:00 com uma Roda de Conversa sobre Políticas Culturais de Base Territorial e Editais culturais com Thaís Souto Amorim, Gerente de Territórios e Diversidade da Secult, e Nieve Matos, Coordenadora do Escritório Estadual MinC no ES.

    Logo após teve performance poética “Escuridão” com o rapper e poeta Dasilva, apresentação da Associação de Capoeira São Salvador, e da banda de congo Mestre Honório. Seguido da exposição: Ritmos e Identidade, a história do Congo em Vila Velha, com exposição de diferentes tipos de instrumentos produzidos por artesãos locais, painel fotográfico e audiovisual sobre a história e evolução dos ritmos e manifestações do congo na cidade.

    Teve também a exibição dos curtas-metragens Griôs Capixabas e Graça São Benedito. O primeiro traz à tela a trajetória de cinco lideranças inspiradoras, guardiãs de suas culturas e lideranças em suas comunidades, produção da Odoyá–Arte e Cultura através da lei de Incentivo Paulo Gustavo Secult, o segundo, dirigido por Sara Engelhardt, retrata a tradicional Festa de São Benedito, também produzido através da lei Paulo Gustavo pela Prefeitura Municipal da Serra.

    E, para encerrar a noite cultural, teve a apresentação prévia do disco Zé Tom com interpretação de Matheus Maraí e participação de convidados. Foi uma tarde/noite incrível, um encontro de gerações entre o congo e a capoeira, promovendo a arte e a cultura como instrumento de transformação social.

    A articulação em rede é um dos propósitos do comitê, e a construção de parcerias é fundamental. Por isso, registramos nossos agradecimentos à Casa Cultural 155 na pessoa do Rayan Brayan.

    Por Welington Barros, assessoria técnica PNCC ES e registros fotográficos de Willians Espártaco.

  • Manhã de domingo de afetividade, troca de saberes e celebração da Páscoa no bairro Alzira Ramos, Cariacica

    Manhã de domingo de afetividade, troca de saberes e celebração da Páscoa no bairro Alzira Ramos, Cariacica

    “Jogo de dentro, jogo de fora; Valei-me Deus, minha nossa senhora: Jogo de dentro, jogo
    de fora; Toma cuidado com o jogo de Angola”, embalados pela ancestralidade Africana
    e Afro-brasileira iniciou o evento de integração sociocultural na Páscoa. Idealizado pelo
    professor Marreta da Escola de Capoeira Nação Iorubá que há 11 anos promove este
    evento na Páscoa para confraternizar com seus alunos/as e grupos de capoeira que
    prestigiam o evento. Um projeto social importante para a comunidade.
    Participaram das atividades o Instituto Humaitá de Ilha das Flores, São Salvador
    Capoeira de Dom João Batista, Arte e Mandinga a Senzala de Nossa Senhora da Penha,
    Quilombo Queimado de Barra do Jucu, estes do município de Vila Velha, de Vitória a
    Escola Nova Geração Capoeira do bairro São Pedro, e do município de Cariacica a
    Escola de Capoeira Nação Iorubá anfitriã do evento, e Águias Acrobatas do bairro Nova
    Rosa da Penha.
    Nesta edição o evento teve como parceiro o PNCC (Programa Nacional Comitês de
    Cultura), a equipe da Região Imediata de Vitória destacou a importância do programa
    para a difusão das informações sobre políticas públicas na área da cultura nas três
    esferas de poder, estabelecer parcerias para que os mestres e mestras da cultura
    popular consigam acessar os editais e as políticas de fomento é o papel institucional do
    comitê.


    O jogo da Capoeira fascina pela beleza plástica, pela mística da roda, mas também é
    uma filosofia de vida. Instrumento de luta contra a escravidão no passado hoje é
    inclusão social e resgate de autoestima.
    Destaque também na programação para a Gincana Desconect: queimada, cabo-de –
    guerra, cabra-cega, e tantas outras brincadeiras lúdicas foram feitas com os jovens, a
    ideia dos mestres é tirar a juventude de frente das telas, o uso excessivo do celular e
    redes sociais tem promovido isolamento social e afetado a saúde mental das pessoas.
    Adriana Silva representante da UNEGRO-ES que junto com o IPAC (Instituto Políticas
    Ações Comunitárias) executam o PNCC no Espírito Santo destacou a importância do
    MinC (Ministério da Cultura) através do comitê no evento para o fortalecimento de redes
    locais conectando artistas, fazedores de cultura, e gestores públicos. Segundo Adriana
    “é preciso aproximar as decisões culturais da realidade das comunidades. A cultura é
    um instrumento de cidadania, então promover a participação popular na construção
    coletiva das políticas públicas possibilita o diálogo de forma horizontal com os
    territórios”
    Por, Welington Barros, assessoria de projetos do PNCC ES

  • 21 de março Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, um dia de luta e reflexão pela superação das desigualdades sociorraciais historicamente construídas

    21 de março Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, um dia de luta e reflexão pela superação das desigualdades sociorraciais historicamente construídas

    21 de março é o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação racial, proclamada pela ONU (Organização das Nações Unidas) a data é em homenagem aos 69 mortos e cerca de 180 feridos, no massacre de Sharpeville, África do Sul, durante protesto realizado em 21 de março de 1960 pelo Congresso Pan-Africano contra a Lei do Passe, um documento que demarcava onde os negros poderiam transitar, era a luta contra o apartheid.
    Na mesma África do Sul, Durban em 2001 realizou-se a III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia, e formas Correlatas de Intolerância. A conferência foi um marco nas discussões sobre racismo, pois o tráfico transatlântico foi reconhecido como uma barbárie e um crime contra a humanidade, nela o Brasil apresentou a proposta das cotas raciais e políticas de reparação. A Declaração e o Plano de Ação criaram ambiência para avançarmos em nosso país nas políticas de ações afirmativas, além das cotas raciais, tivemos a criação da SEPPIR, Estatuto da Igualdade Racial, Programa Integral de Saúde da População Negra, a Lei 10.639/2003 que institui o ensino da cultura Africana e Afro-Brasileira nos currículos escolares, entre outras.
    Nesta quadra histórica assistimos aqui no Brasil e no mundo a ascensão da extrema direita, com relevo para a eleição do republicano Donald Trump nos EUA, este cenário contribui para sentimentos racistas, preconceituosos e discriminatórios.
    Por isso, considero importante a Resolução A/79/L.25 da ONU (Organização Nações Unidas) realizada em 17 dezembro do ano passado que institui na sua 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas renovou por consenso, resolução que proclama a Segunda Década Internacional para os Afrodescendentes, de 1º de janeiro de 2025 a 31 de dezembro de 2034, com o tema “reconhecimento, justiça e desenvolvimento”.
    Entre 2015 e 2024 foi o período da primeira década, cujo principal objetivo foi promover o respeito, a proteção e a realização de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais de afrodescendentes, como reconhecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Meta ousada para uma realidade onde o racismo estrutural e institucional ainda persiste. Até mesmo pelo tamanho do desafio os resultados foram insuficientes, é certo que avançamos do ponto de vista de marcos regulatórios. Contudo, mais do que compromisso com a agenda da equidade racial é preciso que os governos tenham nesta segunda década planos, e orçamento para dar dignidade aos afrodescendentes.
    A resolução foi proposta pelo Brasil, em parceria com Antígua e Barbuda, Bahamas, Bolívia, Burundi, Colômbia, Costa Rica, Jamaica, Santa Lúcia e Estados Unidos. Em nosso país para superarmos as desigualdades sociorraciais ainda há um longo a caminho a ser percorrido. Racismo institucional, desigualdade entre brancos e negros no mercado de trabalho, e o genocídio e encarceramento da juventude negra, são exemplos de agendas prioritárias para alcançarmos a justiça social.
    Preservar a memória de Sharpeville é buscar inspiração para nossas lutas cotidianas pela superação do racismo. As raízes do movimento negro estão na luta conta a escravidão, e tinha um conteúdo essencialmente político a busca pela liberdade. “Quem não sabe de onde veio, não sabe para onde vai”, nossa ancestralidade africana é fonte de sabedoria, identidade e pertencimento.

  • Emergência climática, racismo ambiental, e a necessidade de fazer o caminho de volta…

    Emergência climática, racismo ambiental, e a necessidade de fazer o caminho de volta…

    Um sol escaldante lá fora confirma a previsão meteorológica de que passaríamos por uma “onda de calor” neste fevereiro de 2025 aqui em terras capixabas. Conjuntura difícil no Brasil e no mundo, negacionismo e capitalismo cada vez mais predatório, em certa medida colocam em xeque a existência humana no planeta terra.

    A mudança do clima está entre os maiores problemas ambientais da atualidade e entre as dez principais ameaças para a saúde global listadas pela organização Mundial de Saúde (OMS). Com o aumento global da temperatura, as projeções indicam que haverá intensificação do estresse térmico nos humanos, especialmente nas regiões tropicais.

    Os impactos socioambientais não atingem igualmente as populações: minorias étnicas, comunidades periféricas, pessoas em condição de vulnerabilidade social, em especial as mulheres, sobretudo as negras, que representam as populações historicamente excluídas, invisibilizadas pela sociedade, são as mais afetadas pela poluição, pela falta de saneamento básico, pelo despejo inadequado de resíduos sólidos nocivos à saúde, pela exploração de terras pertencentes aos povos originários e populações tradicionais; pelas moradias em zonas de risco e insalubres; pelas enchentes; deslizamentos; rompimentos de barragens; contaminação; desmatamento; degradação e dano ambiental; e pelos eventos extremos cada vez mais frequentes em função da mudança climática.

    Dessa forma, podemos caracterizar de racismo ambiental políticas, práticas e diretivas que prejudicam grupos ou comunidades com base em raça e cor. Assim o racismo ambiental é uma forma de discriminação racial que resulta em injustiças sociais e ambientais.

    Precisamos todos nós, Estado e sociedade promover ações e políticas públicas que promovam a equidade socioambiental, promovendo iniciativas educacionais, e culturais que valorizem a diversidade. É fundamental a conscientização da sociedade para essa agenda.

    Não existe planeta B, necessário se faz uma mudança de atitude, precisamos fazer o caminho de volta, nos reconectarmos com a natureza, com nossa mãe terra. Menos é mais, precisamos de que nosso consumo seja consciente, reduzir a pressão sobre recursos naturais que são finitos. Atitudes individuais comprometidas com o coletivo, refletirmos que planeta vamos deixar para as futuras gerações.

    “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”. Nossa ancestralidade em África nos ensina que o um não existe sem o todo, tampouco o todo existe sem o um (Ubuntu). Em novembro deste ano acontece no Pará a COP 30, conferência do clima organizada pela ONU que abordará questões importantes como a transição energética e financiamento climático. Uma oportunidade histórica para fortalecimento da luta socioambiental.

  • Descriminalização da cannabis sativa: um debate que avança no país, mas ainda incipiente no movimento negro

    Descriminalização da cannabis sativa: um debate que avança no país, mas ainda incipiente no movimento negro

    Introduzida no Brasil por negros e negras escravizados/as, a cannabis sativa, mais conhecida como maconha, historicamente alvo de preconceito e discriminação por grande parte da sociedade, passa a ser vista com outros olhos na atualidade devido às suas propriedades terapêuticas.

    Anuário produzido pela Kaia Mind revela que 672 mil pacientes fizeram uso da cannabis medicinal em 2024, movimentando 853 milhões. Asma, epilepsia, fibromialgia, dores crônicas, Alzheimer são algumas doenças que evidências científicas comprovaram sua eficácia no tratamento.

    Como se vê, um mercado muito promissor, e a indústria farmacêutica está de olhos bem abertos para o potencial desse mercado. E nós, do movimento negro, qual tem sido a nossa participação nesse debate? Há muito que reivindicamos uma Reparação Histórica pelos mais de 350 anos de trabalho escravo.

    E o mercado da cannabis medicinal, e de também para uso recreativo, que certamente virá num futuro próximo, haja vista a descriminalização da quantidade de até 40 gramas para uso pessoal pelo STF (Supremo Tribunal Federal), são oportunidades singulares para promover reparação à comunidade negra.

    O tráfico de drogas nas comunidades pobres e periféricas utiliza-se da juventude negra como mão de obra no mercado de drogas ilícitas. Muitos países do mundo promoveram a legalização, regulamentação e tributação de drogas, ao invés da repressão “guerra às drogas”, uma guerra perdida ao custo de milhares de vidas ceifadas nessa guerra que, ao fim e ao cabo, é contra pretos, pobres e favelados.

    Quantos jovens não estão hoje no sistema prisional por duas ou três buchas de maconha, enquadrados como traficantes num sistema de justiça seletivo?
    Neste sentido, é fundamental que as organizações e lideranças do movimento negro possam se apropriar desse debate, propor políticas públicas que incluam aqueles e aquelas que historicamente foram discriminados/as.

    Não é exagero dizer que a legislação que proíbe o uso da cannabis no Brasil é profundamente racista. Em 1830, quando a Câmara Municipal do Rio de Janeiro proibiu o uso da substância através da lei conhecida como “Pito do Pango”, a cidade tinha em torno de 60 mil habitantes, composta majoritariamente por negros e negras escravizados, principais alvos da lei. Já em 2006, a lei 11.343/06, que em tese buscava ampliar a punição para traficantes e tratar o usuário como questão de saúde pública, promoveu um encarceramento em massa de jovens pretos, por falta de critérios objetivos para definir o que pode ser enquadrado como tráfico ou para consumo pessoal. Legislações que, na prática, promovem o racismo institucional.

    Em tempos de emergência climática, com múltiplas utilidades, a cannabis pode ser uma ferramenta não apenas medicinal e industrial, mas também ambiental, focando em práticas sustentáveis de agroecologia, justiça social e geração de renda.

    O cânhamo, uma das variedades da cannabis sativa, tem demonstrado um impacto positivo na recuperação ambiental, com benefícios como captura de carbono, regeneração de solos e corpos hídricos, além de ser uma alternativa viável a materiais tóxicos como o plástico.
    Não tenho dúvidas de que, ao nos despirmos do preconceito e da discriminação, podemos avançar muito neste debate sobre a descriminalização do uso da cannabis, um debate no qual o movimento negro brasileiro tem todas as condições de ser protagonista.

    Por Welington Barros,

    Artista plástico, pesquisador de africanidades, ativista pela equidade racial e pelos direitos humanos, militante da UNEGRO.